sábado, 7 de maio de 2011

SAMHAIN - Por Corujito



Depois de Lughnasadh, os dias vão ficando mais escuros e a brisa do fim do dia mais suave e frio. Da janela vejo os agricultores colhendo o arroz, o cheio da palha amassada com o lodo, remete a uma nostalgia e a lembrança que um novo ciclo se inicia.


No rosto do agricultor, está estampado a máscara do trabalho árduo para colher o alimento do ano que está por vir, a bem aventurança de uma colheita farta e a garantia de mais um ano feliz com a mesa farta.

Os dias passam e a noite escura avança, deixando para trás em apenas uma lembrança a luz de Bel e o calor de Briga, dando espaço aos domínios da escuridão, do frio e da introspecção. É tempo de saudar o fogo sagrado que se alimenta na lareira deixando no ar o aroma da madeira lambida pelas labaredas e a fumaça traz à memória os tempos passados, as experiências vividas e a recordação dos entes distantes ou falecidos. Sorrisos se misturam com lágrimas a cada recordação, resgatando o amor e renovando dos votos e laços de sangue que unem o espírito e a todos da família.


Morrighan com o seu ar sombrio e sereno nos remete a reflexão de nossos atos, ao aprendizado e experiências vividas, os erros e aos acertos, as quedas e as vitórias, triunfos da jornada percorrida, para o guerreiro que passou um ano cheio de lutas e se resguarda para renovar as energias para as batalhas pessoais que estão por vir, outros acreditam que já viveram todas as batalhas necessárias dando as mãos a Grande Rainha para a sua jornada invernal.

É tempo de saudar os mortos, prestar homenagem aos ancestrais deixando a mesa o espaço de direto, demonstrar o respeito pela sabedoria oferecida e a acolhida em uma noite tão singular. Nesse pequeno gesto há a reverencia aos ancestrais mortos e a firme convicção que não há distinção entre o mundo visível (humano) e o invisível (dos mortos). A hospitalidade ensinada pelos antepassados ultrapassa a recepção permitindo que espíritos não convidados participem dos festejos, não deixando de serem bem recebidos e todos tratados com respeito.

Os portais do Sìdhe estão abertos, a cada fenda na terra as fadas invernais sobem a superfície para se juntarem aos festejos humanos. A fogueira que aquece a carne infla os olhos, alimentando o espírito de esperança. Nela são jogados os objetos que representam a esperança e o sofrimento da clan, símbolos de renovação e cura. As feridas nesse momento cicatrizam-se rejuvenescendo a promessa feita, aquecendo o coração partido e a busca de novos objetivos e itentos. O corvo gralha lá fora, reclamando pelo alimento, pelas oferendas dadas num gesto de agradecimento, lembrando-nos do nosso lado sombrio, a terra úmida e lodosa que criamos com os nossos pensamentos fúteis e sombrios, levando-nos a introspecção e a reflexão de nossos atos. Uma viagem sem igual aos caminhos do inconsciente, do lado sombrio que espreita o Bruxo, ao inimigo eterno e seu melhor companheiro.

Após passar por seu campo de sorte e infortúnios, o guerreiro colhe o aprendizado necessário e a noite passa, dando espaço a luz novamente, lembrando-nos que após a noite escura e sombria, sempre há o retorno de Bel com sua face brilhante e o conhecimento transmutado em sabedoria.

Autor: Corujão

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