quarta-feira, 28 de março de 2012

Vivendo e aprendendo..SEMPRE e com muito amor... Te devo mais uma Thi...




ALMA E MATÉRIA

Entrar na dimensão do espírito é um processo muito sutil, principalmente quando a mente está trancada numa visão da realidade que exclui a eternidade. A matéria, os sentidos e as coisas de interesse imediato têm tal domínio sobre os pensamentos que a própria natureza da existência torna-se distorcida. Vejo o mundo não como ele é, mas como eu sou.

Minha vida gira dentro de limites, distinções e desejos estreitos à medida que faço o jogo de rotular-me e rotular os outros com base nas características puramente físicas. Classifico o mundo de acordo com sexo, raça, credo, nação, idade e posição social, e coloco todos dentro de sua pasta no meu arquivo interno. Devido a tais classificações, surge conflito dentro de mim e a minha volta à medida que busco defender o território assim estabelecido — seja ele um papel, um trabalho, uma posição na sociedade, o nome da família ou uma nação. “Que ninguém transpasse meu território” é uma placa não-verbalizada plantada em meu coração. Retirar os óculos do que pode ser chamado de consciência do corpo, por intermédio da qual vejo e julgo o mundo ao meu redor, requer algum esforço. Experimentar o Eu em sua luz verdadeira requer um entendimento detalhado dos termos e processos usados. Mas o próprio ato de dar tal passo abre uma perspectiva totalmente nova de ver e reagir ao mundo a minha volta.

Com a percepção sobre a natureza verdadeira das coisas, a mesma vida que estou levando em termos de trabalho, família e lazer torna-se o trampolim de minha transformação.
Abandonar a consciência dos limites deste corpo físico e experimentar o eu interior ou a alma é a essência do Raja Yoga.

Distúrbio e tensão no nível individual — e conseqüentemente no nível social — são o resultado da ignorância dos processos do Eu e do mundo em volta. A mente fica sem descanso, agitando-se e pensando sem meta, açoitada por ondas de sentimentos e emoções. Como uma aranha presa em sua própria teia, fico emaranhado nas teias que são a conseqüência de minha própria ignorância dos fundamentos da vida.

Na vida, muitos acontecimentos não podem ser explicados apenas em termos materiais. Em certos momentos de crise ou inspiração, existem experiências emocionais e espirituais profundas que me separam do mundo ao redor. Nessas ocasiões, refugio-me dentro de mim e busco por conhecimentos religiosos, filosóficos e ritualísticos a fim de entender tais experiências. Além disso, sujeito-me a uma constante crítica da vida ao meu redor a partir de meus próprios pensamentos, sentimentos e deduções.

Essas faculdades de pensar e formar idéias, de desejos e de decisão (e todos os aspectos diferentes que constituem minha personalidade) não são físicas e, ainda assim, são reais. De fato, qualquer coisa que eu possa perceber vem de duas fontes: o que é detectado pelos sentidos físicos e o que surge de impressões gravadas nessas faculdades sutis. As coisas que consigo ver, degustar, ouvir, cheirar, bem como meu próprio corpo, são formadas de matéria. Mas as faculdades sutis da mente, do intelecto e da personalidade são manifestações do que é chamado de Energia da Consciência.

Essa energia consciente é também chamada de alma ou espírito. A alma é a entidade sutil que não pode ser medida por nenhum processo nem instrumento físico. A parte não-material de cada um de nós existe e, na realidade, ela é o ser verdadeiro ou o que simplesmente chamamos de “Eu”. Esse Eu ou alma só é perceptível no nível da mente e do intelecto.

Quando começo a jornada em direção à verdade e escalo a montanha do autorespeito, não importa quão longe eu me leve, estou retornando a mim. Experiência e visão interior, favorecendo tempo e circunstâncias, encontrando crescimento em coisas pequenas e simples, aprendendo como finalmente ser. O amor desobrigado de máscaras, quando estas estão despedaçadas, abre portas dentro do ser.

Nada vem para romper o elo, ele me traz de volta a mim.

(Ken O’Donnell, Caminhos para uma consciência elevada)




segunda-feira, 5 de março de 2012

"No Need To Argue"


"E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor pensar que a última vez que se encontraram se curtiram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.
E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 
Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 
A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."