quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

domingo, 12 de agosto de 2012

12/08/2012

Tive um dia difícil ontem. 
Na verdade os dias andam difíceis já há algum tempo... mas a gente camufla.
Mas ontem os dias me doeram. Pra variar fui no limite de tudo, a fundo... no sentir, no clamar... deixei td extravasar. Toda aquela "febre" contida invadir.. revolta, mágoa, tristeza... deixei por fim toda dor sair em lágrimas e despedidas... o pior é que pedi isso a Brigith ao acordar e nem me dei conta de como aquele pedido me tocaria. 

O universo ainda foi bondoso comigo me dando um colo pra desaguar e por td pra fora... me deu ouvidos pra que eu pudesse limpar o peito e a alma com toda inquietação que me invadira... me deu palavras que atingiram o ponto certo da questão me fazendo ver/aceitar o que eu já sabia... mas relutava em entender. Tava na hora de seguir em frente... e nada nem ninguém que não fizesse parte desse novo ciclo eu conseguiria levar comigo, pq o fardo seria pesado demais... atrasando-me ao meu destino... tornando td mais difícil. 

Ontem por um instante perdi a fé em quem eu era, por acontecimentos que na verdade eu poderia ter evitado desde o princípio, mas somos feitos de escolhas e toda ação tem uma reação. E eu cavei um buraco gigante pra me enfiar, natural que uma hora eu teria que sair dele, e o que é pior, sozinha!

Tenho um defeito grave que é criar grandes expectativas, que é acreditar que se vc dar carinho, vc receberá carinho... não! Aprendi que isso é balela, a gente da carinho, pq é da nossa essência da-lo... mas não devemos esperar recebe-lo em troca pq demos isso. Tudo é uma troca, mas nem sempre a troca é justa. Não, a gente não ganha o que oferta... e nesse pensamento errado, de repente me perguntei se realmente estava sendo uma boa pessoa... se realmente eu não era uma pessoa insensível, egoísta, fria e cruel, pois é o que eu recebi bastante nesses últimos tempos de pessoas "importantes"... cheguei a duvidar da minha sanidade por não conseguir enxergar, onde estava pecando com as pessoas. Mas quer saber... não agi. Dei o meu melhor sim, mas cada um da o que tem, cada um faz o que acha certo em relação às pessoas e relacionamentos... o resto é hipocrisia. 

Recuperada a fé do que sou, do que dou às pessoas e ao mundo, de quem valorizo e de como ajo com essas pessoas, vejo o que estava realmente errado. Se não tenho recebido isso, não é pq não tenho merecido, mas é pq to preso num passado que ficou lá atrás e insisto em arrastá-lo comigo... e a energia não é a mesma... e energia atrai semelhanças... e o passado, não pode mais ser semelhante a mim que procuro a minha evolução todo dia... e me transmuto todo dia...  aos poucos aprendo a aceitar o mundo e as pessoas como são... seus atos.. e vejo que a escolha de estar lidando com essas atitudes é minha... e que se sofrer com essa escolha, a culpa é minha. Pois tenho a liberdade de apenas deixar cada coisa no seu lugar, para não me machucar.

Parei de culpar o mundo pelo meu sofrimento... as escolhas sou eu quem faço... ficar ou partir, sou eu quem decido... e é hora de partir... deixando meus amores pra trás... vivendo a minha vida... quem quiser e puder caminhar ao meu lado, seja bem vindo, mas chega de carregar os mortos dos outros como disse um grande amigo... chega de fardos... quero caminha na beleza... ainda que ela hoje seja um enigma pra mim... mas vou caçar meu novo caminho, com toda a bagagem adquirida nesse tempo todo, nesses 30 anos... separando joio de trigo sempre... e levando apenas aquilo que me torna leve e feliz.

Engraçado como meu corpo somatiza todos meus sentimentos, e foi preciso de um dia de cama, de febre, alergias e dores absurdas pra ouvir a voz daqueles que nunca me abandonam... daqueles que sempre estarão comigo enquanto fé neles eu tiver... Meus deuses, grata por cada conselho e atenção dada... pela cura do corpo, pela limpeza da alma... obrigada por trazer o "festival" que eu não poderei participar até mim, lindas visões, divinos presentes. Obrigada por me deixar vivenciar a colheita e todo o ciclo que tive tanto medo de não ser permitido participar ao me despedir do meu antigo grupo de amigos e companheiro de ritualizações. Desejo ao meu antigo clan um ótimo recomeço.

 Obrigada pela visita. 

To me adaptando ao meu novo eu e as consequências que isso irá me gerar. Eu consigo, sempre consigo o que quero pq corro atrás e faço acontecer. Dói, mas vale a pena crescer.

Enfim, àqueles que interessar, vos digo... 

Sou Janaina, mulher madura,competente, persistente, batalhadora e guerreira. Sou carente, sou amável, sou grudenta e dou o mundo àqueles que amo. Valorizo as pessoas. Sou mãe coruja, uma administradora impecável... sou extremamente organizada pra umas coisas, completamente bagunceira pra outras... zelo acima de tudo pela justiça e me revolto extremamente quando me sinto desvalorizada ou enganada, seja pelo que for. Sou transparente, digo o que penso, indago quando não concordo, admito quando erro... sei voltar atrás. Sou briguenta, luto pelo que quero e acredito nem que tenha que bater realmente em alguém pra deixar isso claro, não sou de desistir de nada que acredite ou tenha fé. Se eu desisti é pq realmente aquilo perdeu o sentido para mim. Sou desengonçada, sou emotiva choro fácil...choro quando dou muita risada... choro quando lembro de algo bom... choro demais... mas isso me deixa leve, sempre. 
Tenho uma TPM dos infernos que me deixa insana e cheia de neuroses que me fazem atropelar td e fazer muitas besteiras... sou difícil de conviver as vezes, tenho minhas manias, gosto das coisas do meu jeito até que vc me prove que de outra forma é melhor... não gosto que se metam na minha vida, ainda mais quando diz respeito aos meus filhos.
Trabalho e estudo sempre pra ter o melhor em casa, pra dar td que acho necessário aos meus filhos. Sou curiosa e fuço em tudo. Me desdobro em quantas for preciso pra ser boa mãe... pra dar bons exemplos à eles, pra ser boa amiga e ter a confiança deles. Me desdobro pra poder ter vida própria mesmo sendo mãe em tempo integral... e queria que algumas pessoas entendessem minhas reações por conta disso. 
Levanto todo dia as 5 da manhã, deixo meus filhos arrumados pra ir à escola, só saio de casa quando vejo que td está encaminhado pra eles passarem o dia longe de meus olhos, gosto de prever riscos e sanar possíveis falhas em tudo... gosto de ter tudo pré organizado... sou assim, preciso disso pra estar segura e centrada no dia a dia. Minha vida não se resume só a mim... minhas atitudes influem na vida desses pequenos, e todas minhas escolhas também recaem sobre eles... não tenho alguém em casa que faça as coisas por mim, se eu deixar de fazer algo, quando eu voltar ainda faltará. Meu tempo é valioso.  Por isso àqueles que não entendem o pq me aborreço quando algo da errado, ou alguém da pra trás, pensem um pouco nisso td. 
Não tenho vida de uma mulher solteira convencional, tenho muitas responsabilidades, então um combinado pra mim é coisa séria, pois pode apostar que deixei de fazer n coisas pra estar ali, deixei de estar com meus filhos, ou ir ver meus pais... deixei de estudar, ou até quem sabe  lavar uma roupa que precisaria durante a semana... não limpei a casa... ou mesmo não cuidei de n compromissos que tenho no meu dia a dia... não gosto de dar cano nas pessoas... e odeio quando fazem isso comigo, odeio que me deixem na mão, me sinto sem valor e burra. Sabe aquilo que dizem: "não faça aos outros, o que não quer pra vc?" tento ao máximo seguir esse belo conselho.
 E de boa, não faria isso com ninguém, respeitar o próximo é preciso. Cada um com sua vida, seu jeito, suas manias e defeitos. 
E tenho muitos... muitos mesmo... mas procuro sempre melhora-los... então não me julguem. 

Enfim, apenas mais um grande desabafo depois de um dia longo debaixo das cobertas tremulas... apenas devaneando pra não perder o hábito...Apenas sendo eu mesma... 

Voltando à vida!



Voltando À Vida

Onde você estava quando fui queimado e arrasado?
Enquanto os dias passavam pela minha janela
Onde você estava quando fui ferido e estava indefeso
Porque as coisas que você diz e as coisas que você faz me rodeiam
Enquanto você se agarrava às palavras de outra pessoa
Morrendo pra acreditar no que você ouviu
Eu estava olhando fixamente para o sol à brilhar

Perdido no pensamento e perdido no tempo
Enquanto as sementes da vida e as sementes da mudança eram plantadas
Lá fora a chuva caía escura e devagar
Enquanto eu refletia sobre esse perigoso porém irresistível passatempo
Eu dei um passeio paradisíaco através do nosso silêncio
Eu sabia que era chegado o momento
Para matar o passado e voltar à vida

Eu dei um passeio paradisíaco através do nosso silêncio
Eu sabia que a espera havia começado
E fui direto ... em direção ao sol

Limpando...




Que a maldade e a má negatividade do ser humano
passe pela teia e não corrompa os seus sonhos ,
que ela atravesse em forma de paz e positividade.
Porque feliz ou não, transmitir a alegria é essencial

"to pronta"...

Encerrando Ciclos

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.


Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.

Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?

Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....

Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.

Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.

O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.

As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...

Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.

Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.

Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.

Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".

Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!

Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.

Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.

Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és...

E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão

Fernando Pessoa

Fato#


Quem julga se anula,
Limita no outro a sua própria conduta
Reconhece no momento do ato desconhecer o próprio fato,
Cada qual, é um e vive do seu jeito e quem se limita no fora,
perde a oportunidade de conhecer a beleza de dentro,
Não somos o que parecemos, fomos domesticados e ensinados a nos esquecer de nós mesmo,
Resta a cada um romper suas próprias barreiras e perceber que somos muito mais do que conceitos,
Estamos a beira de reconhecer nosso próprio ser,
Só é preciso ter coragem e se atirar do abismo de conceitos que separa você de você,
Abandone as ideias que te fazem pensar que tu não merece ser feliz e que não é capaz,
Comece a sentir as verdades que vem de você,
Sinta seu corpo, sinta suas emoções, sinta seus pensamentos e descubra o que realmente vem de você,
Sinta a vida que se descortina quando você, com julgamentos, não a limita,
E tenha ciência de que a forma como você se expressa no mundo é a mesma forma que o mundo se expressa pra você,
Respeite a vida, respeite o outro para que respeitem você.

"Aquilo que eu quero eu posso,
aquilo que eu posso eu realizo"

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Deusas celtas



Mirella Faur
Do grande tronco indo-europeu faziam parte os vários povos celtas estabelecidos em diferentes lugares do continente europeu. Considerados pelos romanos como bárbaros valentes, jamais formaram um império pois lhes faltava uma liderança única, as diversas tribos sempre guerreando entre si. Apesar da sua diversidade étnica, entre os séculos VIII e V a.C. houve uma cristalização da cultura celta com a uniformização dos sepultamentos (os mortos passaram a ser enterrados com armas e pertences e não mais cremados), a construção de fortificações com paliçadas e melhor elaboração dos conceitos e costumes sobre vida e morte. A sociedade celta era dividida em clãs e os laços familiares eram muito valorizados. As mulheres celtas se assemelhavam aos homens não apenas pela sua estatura e altivez, mas também com respeito à coragem e participação ativa nas batalhas, conforme comprovam centenas de relatos de mulheres poderosas e rainhas deificadas como Boudicca e Maeve.
Os celtas respeitavam profundamente a Natureza, honrando a Terra e suas criaturas como elos sagrados na teia da criação e na magia da vida. Esta reverência e o culto de inúmeras divindades ligadas às forças da natureza mantiveram-se intactos mesmo depois da romanização das terras celtas e do sincretismo com os deuses romanos. Porém, a erradicação e perseguição agressiva e opressiva da religião pagã aconteceram com a chegada do cristianismo, que conseguiu impor seus dogmas e proibições apesar da resistência dos druidas e do povo, principalmente o irlandês. Para erradicar a religião pagã e suas tradições os monges cristãos começaram a registrar lendas, mitos, crenças e costumes com as devidas correções e inevitáveis distorções, introduzindo elementos e conceitos cristãos. Mesmo assim, uma boa parte do legado ancestral foi preservada e o substrato original pode ser distinguido se usarmos um “filtro” corretor, olhando além das incongruências conceituais e sobreposições cristãs.
Um dos conceitos celtas mais difíceis de compreender e aceitar - pela nossa cultura cristã e a mentalidade atual - é a associação dos arquétipos sagrados femininos com a guerra. Para transpormos barreiras conceituais devemos conhecer o princípio celta da soberania da terra, sempre representado por uma Deusa Mãe com características protetoras e defensoras. A vida e a sobrevivência dependiam da terra e por isso ela devia ser preservada e protegida, pois desrespeitar a terra e a soberania de um povo significava ofender e ameaçar a própria natureza criadora da vida. A soberania – o verdadeiro poder de quem governava e conduzia os destinos de um povo – pertencia a um arquétipo feminino, a própria Deusa da Terra, com a qual o rei ou governante devia se casar simbolicamente para garantir a prosperidade e paz. O casamento do rei com a Deusa da terra representava as condições indispensáveis para que a soberania se manifestasse: respeito, igualdade, confiança, parceria e solidariedade. A representante da Deusa soberana era uma sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes especiais, que até mesmo podia ser divinizada, como se conclui das lendas de Macha, Maeve e Boudicca. Nos mitos aparece de forma metafórica o alerta sobre as conseqüências da opressão, violência e exploração da natureza e da mulher com os inerentes desequilíbrios, a falta de prosperidade e do convívio pacífico.
Em várias lendas, Macha (pronuncia-se Maha) é descrita como uma típica deusa celta tendo um caráter ambíguo: ora generosa e gentil, ora terrível e implacável guerreira.Ela - assim como Maeve – é uma divindade ctônica, ligada às dádivas da terra e à sua necessária defesa e proteção. Maeve (ou Medb) representava o espírito feminino arcaico, existente em cada mulher e que é expresso em grau maior ou menor como comportamento instintivo, impulsivo, corajoso, combativo, sedutor e fértil. Outras fontes citam Macha como sendo uma das faces de Morrighan, a formidável deusa tríplice da guerra, morte e sexualidade (o meio natural para garantir a fertilidade). As faces de Morrighan chamadas de Morrigna eram conhecidas como: Nemain, o frenesi combativo que infundia o terror nos inimigos, Morrighan, a “Grande Rainha” que planejava o ataque e incitava o heroísmo e a valentia dos combatentes, Macha ou Badb, o corvo que se alimentava dos cadáveres dos mortos em combate e que era associada aos sangrentos troféus da batalha (as cabeças decapitadas dos inimigos, consideradas “sua colheita”). Esta triplicidade também era conhecida com os nomes de Banba, Fotla, Eriu, as ancestrais padroeiras da Irlanda.
A natureza das deusas celtas é multifuncional e com complexos significados, mesclando elementos ancestrais dos pacíficos povos pré-celtas (maternidade, fertilidade) com os dos combativos celtas, onde prevaleciam atributos de guerra, morte e sexo, acrescidos de soberania.Várias divindades representam uma paradoxal união de extremos: amor e guerra, guerra e fertilidade, guerra e soberania. Não existe uma deusa do amor no panteão celta, as deidades - deusas e deuses- simbolizam as forças da natureza e a eterna roda da vida/ morte/renascimento, início/ fim/recomeço, em que os opostos se seguem em círculos evolutivos e tem o mesmo peso.
Na filosofia celta não existia vida sem morte, nem paz sem guerra. Cada ser traz em si estes elementos e pela sua percepção vemos a necessidade do seu equilíbrio, que pode ser desestabilizado pela supervalorização de uma característica em detrimento de outra. Nosso desenvolvimento espiritual depende da compreensão e harmonização de todos os elementos que fazem parte do nosso ser. Somente conhecendo a face escura e selvagem e “domando-a”, poderemos tomar consciência da nossa divina complexidade, conhecendo assim a verdadeira e completa natureza. É possível unir as qualidades maternais e femininas com os aspectos guerreiros, os dons da arte, magia e sedução.
Em muitas referências míticas, iconográficas e literárias vê-se a forte ligação entre as deusas da guerra e a presença de mulheres nas batalhas. Indo além das interpretações tendenciosas romanas e as difamações cristãs, percebemos esta ligação como uma associação simbólica entre guerra e ritual. Para os celtas a caça era uma atividade que envolvia rituais para assegurar o sucesso, da mesma forma como as mulheres celtas vestidas de preto, com os braços elevados e proferindo maldições contra os conquistadores romanos tinham um forte componente ritualístico.As sacerdotisas que atuavam nos campos de batalha usavam encantamentos para atrair poderes sobrenaturais e direcioná-las contra os inimigos, fortalecendo seus companheiros para não recuar perante o inimigo. Os historiadores romanos descreveram as mulheres celtas como bruxas ferozes e ameaçadores, altas, robustas, com pele alva e olhos azuis e longos cabelos ruivos, sacudindo os punhos com raiva e gritando maldições. Em outras situações, as mulheres ficavam com seus filhos na retaguarda e incentivavam seus homens com gritos e orações para que lutassem melhor e não desistissem.
Das inúmeras mulheres guerreiras, sacerdotisas e rainhas poderosas sobressaem-se duas famosas rainhas: Cartimandua, dirigente dos Brigantes, sacerdotisa da deusa Brigantia e Boudicca governante dos Iceni, que se tornou famosa por venerar a deusa Andraste ou Andarta, a deusa da guerra citada por várias fontes. O nome Boudicca ou Boadiceia se origina na palavra celta bouda que significa vitória. A sua história é repleta de atos de coragem nas batalhas e crueldade com as prisioneiras, que eram empaladas vivas e mutiladas como oferendas sangrentas para a deusa Andraste e uma vingança pelo estupro das suas filhas e a conquista da terra pelos romanos. Existe um forte elo entre Boudicca e Andraste, podendo serem vistas como aspectos de uma mesma entidade, uma residindo no mundo sobrenatural e a outra sendo uma valente dirigente e cruel guerreira humana, ao mesmo tempo servindo como sacerdotisa da deusa da guerra.
Andraste ou Andred cujo nome significa ”A Invencível’ era uma deusa irlandesa equiparada com Andarte cultuada na Gália e com características semelhantes à Morrighan, sendo evocada na véspera das batalhas para garantir a vitória.Os romanos diminuíram seu status para uma deusa lunar (por ser a lebre seu totem) e a associaram ao amor e fertilidade. No entanto, o arquétipo original de Andraste é de uma deusa escura e ceifadora, invocada apenas nos momentos de extrema necessidade, pois ela exigia sacrifícios de sangue humano, considerado o mais potente substrato mágico.Ela controlava os fios da vida de cada ser humano, do nascimento até a morte, pois a morte era parte inevitável da vida. O seu lado sombrio (da anciã) era amenizado pelos seus atributos de deusa lunar, regente do amor e da fertilidade (como mãe criadora da vida) e regente da caça (na sua face de donzela).
O aparente paradoxo entre os aspectos e naturezas das deusas celtas reflete a profunda compreensão do processo de dar/receber, nascer/morrer, começo/fim. Muitas deusas aparecem como figuras promíscuas e destrutivas, mas elas personificavam aspectos da natureza, como a fertilidade e a soberania da terra, que tinham que ser defendidas a qualquer preço para assegurar a sobrevivência dos descendentes. A criação e a destruição são processos interdependentes, existe uma ausência de vida na escuridão da terra que recebe os mortos, mas também é a terra escura que abriga e promove o desabrochar das sementes, que renascem - assim como os mortos nela enterrados - para uma Nova Vida.

Valente... e tocante!


Achei muito interessante esse filme... tocante seria melhor descrito...

"Achei acertada a escolha do urso para firmar o enredo. Eu acho que o urso fornece um escopo muito forte para ilustrar o grau de profundidade de uma relação mãe e filha.

Porque é justamente o urso, animal temido e ao mesmo tempo admirado ao ponto de virar brinquedo de pelúcia, que possui a simbologia da introspecção, do despertar de consciência. Em culturas como a indígena norte-americana, o urso é o símbolo da sabedoria. O urso é visto como aquele que sabe discernir se o ato de continuar a insistir em algo vale ou não a pena. E, tomada a decisão, o urso não pestaneja em mudar, seguir adiante.

Na simbologia céltica: trata-se de animal cujos poderes são igualitários entre macho e fêmea. A mitologia celta conta com duas deusas que se transmutaram em urso, a Andarta e a Artio. O urso-macho é associado ao Rei Arthur. Além do mais, o urso aparece, na tradição celta, como o arquétipo materno: mãe por excelência, a figura do urso estaria diretamente vinculada à maternidade e proteção de crianças. 

É justamente essa bela simbologia, de um animal que cuida, protege suas crias, ao mesmo tempo em que não hesita em ponderar suas crenças e portanto mudar, que aparece na tela de Valente. 

O ápice da valentia se dá numa das cenas mais fortes do filme. Aquela cena em que me foi impossível não chorar. A cena em que, simbolicamente, ocorre uma violência doméstica. Trata-se do momento em que a Merida se coloca entre o pai e a mãe e, muito corajosamente, desafia o pai e o impede de matar a própria esposa.




Não posso deixar de mencionar o cabelo da Valente. Fez justiça a todas as meninas crespas. Saber que as garotas de hoje terão um arquétipo com um cabelo natural, não-domado, é muito gratificante. Eu não me recordo de UMA princesa ou boneca que tivesse um cabelo não-domado.
Portanto, celebremos a cabeleira natural da Merida, com seus cachos heterogêneos que, mesmo molhados, dão a impressão de algo real, não-fabricado. Em tempos de plastificação de corpos, cabelos e mentes, isso já é um grande avanço. "

Ownnn... rs

sábado, 4 de agosto de 2012

[...]


Em eXplosão...

“Você conhece o seu desejo, mas tem medo de atendê-lo. Sabe que seu desejo não é algo circunstancial e que ele jamais será satisfeito a partir de fantasiosas expectativas ou de episódicas alegrias. Você admite que seu desejo seja realmente um sonho, um grito da sua essência, e que esse grito não será silenciado com experiências compensatórias. Isso é bom. Você sabe que não quer viver a vida como uma observadora, mas como uma pessoa que aceita que, em nome do amor, todos os riscos possam valer a pena. Isso também é bom. Mas, mesmo assim, você finge não escutar o grito de sua essência, finge não saber que muitas vezes o medo da dor é maior do que a própria dor e, a despeito disso, mantem-se apegada a ele. Desapegue-se do medo e, de uma vez por todas, dê boas vindas a você...”