Por Graça Azevedo / Senhora Telucama
É
gente de conteúdo interno que transcende a compreensão medíocre,
simplória. É gente que tem idealismo na alma e no coração, que traz nos
olhos a luz do amanhecer e a serenidade do ocaso. Tem os dois pés no
chão da realidade. É gente que ri, chora e se emociona com uma simples
carta, com um telefonema, uma canção suave, um bom filme, um bom livro,
um gesto de carinho, um abraço, um afago. É gente que ama e curte
saudades, gosta de amigos, cultiva flores, ama os animais. Admira
paisagens. Poeira traz lembranças de chão curtido de sonhos passados.
Escuta o som dos ventos. Dança a dança do mundo pelo simples prazer de
dançar. É gente que tem tempo para sorrir bondade, semear perdão,
repartir ternura, compartilhar vivências e dar espaço para as emoções
dentro de si. Emoções que fluem naturalmente de dentro de seu ser! É
gente que gosta de fazer as coisas que gosta, sem fugir de compromissos
difíceis e inadiáveis, por mais desgastantes que sejam. Gente que
semeia, colhe, orienta, se entende, aconselha, busca a verdade e quer
sempre aprender, mesmo que seja de uma criança, de um pobre, de um
analfabeto. É gente muito estranha as Bruxas. Gente de coração
desarmado, sem ódio e preconceitos baratos. Gente que fala com plantas e
bichos. Dança na chuva e alegra-se com o sol.
Cultua
a Lua como Deusa e lhe faz celebrações... Eh!Gente muito estranha essas
Bruxas. Falam de amor com os olhos iluminados como par de luas cheias.
Gente que erra e reconhece, cai e se levanta, com a mesma energia das
grandes marés, que vão e voltam em uma harmoniosa cadência natural.
Apanha e assimila os golpes, tirando lições dos erros e fazendo
redentores suas lágrimas e sofrimentos. Amam como missão sagrada e
distribuem amor com a mesma serenidade que distribuem pão. Coragem é
sinônimo de vida, seguem em busca dos seus sonhos, independente das
agruras do caminho. Essa gente, vê o passado como referencial, o
presente como luz e o futuro como meta. São estanhas as Bruxas!
Acreditam no poder do feminino, estão sempre fazendo da maternidade a
sua maior magia e através da incessante luta pela paz chegam a divindade
de existir pelo amor da Grande Mãe, a Natureza. Da mesma forma que
produzem um belíssimo visual, de elegância refinada com as raias da
vaidade, se vestem como verdadeiras Bruxas medievais a caminho do
patíbulo. Ilumina de beleza e jovialidade o corpo físico com habilidade
mágica e com facilidade transforma-se, permitindo-se um sóbrio aspecto
de velha senhora, a depender da lua nos seus espíritos.
Cultuam
as sagradas tradições como forma de perpetuar as leis que regem o
universo, passam de geração para geração a fonte renovadora da sabedoria
milenar. São fortes e valentes, ao mesmo tempo humildes e serenas. São
leoas e gatinhas, são muito estranhas as Bruxas. Com
a mesma habilidade que manuseiam livros codificados, o fazem com
panelas e vassouras... São aventureiras e criam raízes, dançam rock,
valsa e polka, danças sagradas, e inventam o que precisa ser inventado.
Criam e recriam. Contam contos e histórias de fadas, e carochinhas,
contam suas próprias histórias... Falam de generosidade e de todas as
daides em exercício constante, buscam a plenitude como propósito...
Interessante essa gente, essas Bruxas. Se obrigam tarefas, de evoluir,
de amar e dividir... Falam de desapego em plena metrópole, em meio às
tecnologias. Recitam músicas sagradas e populares e se emocionam com as
folclóricas. Mexem com ervas e chás, são primitivas e avançadas. Pulam
da mesa do rei para um abrigo montanhês com o mesmo sorriso enigmático
de prazer e sabedoria que iluminava a face das suas ancestrais. Degustam
um pão artezanal, receita medieval da velha.
Senhora
das montanhas com a mesma gula que o fazem em um banquete cinco
estrelas, com pães ultra sofisticados daquela celebridade da cozinha
francesa. Amam em esteiras e em grandes suítes, desde que estejam
felizes, pois ser feliz é sempre a única condição dessa gente estranha. É
gente que compra briga pela criança abandonada, pelo velho carente pelo
homem miserável, pela falta de respeito humano... é gente que fica
horas olhando as estrelas, tentando decifrar seus mistérios, e sempre
conseguem. Gente que lê em fundos de xícaras, em bolas de cristal, Tarô,
com pedras, na areia, nas nuvens, no fogo, no copo d’água... São muito
estranhas! Oram para elementais, anjos e gnomos. Falam com intimidade
com os Deuses e lhes chamam para um círculo, fazem fogueiras e dançam em
volta... Viajam de avião, a pé, de carro e em lombos de animais,
agradecendo pelas oportunidades que a vida lhes dá... Aliais, essa gente
estranha agradece por tudo, até pela dor, que chamam de mãe, pois
acreditam que é a forma mais rápida para a evolução...Se reúnem em
escolas Iniciática que chamam de Coventículos, para mutuamente se
bastarem, se protegerem se resguardarem, resgatar valores, estudar,
muito estranhas são as Bruxas. Mas estranha mesmo é a fé que as mantém
vivificadas ao longo do passar das eras. Que seja abençoada toda essa
gente estranha... E desconfio que é deste tipo de gente que os deuses
precisa para o terceiro milênio...
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