E como as fases da lua, tudo se molda e modifica... vai e vem, começa e termina, da voltas inesperadas...e nos coloca de novo frente ao que pensávamos já ter abandonado pra sempre...e de repente, o equilíbrio vai se instalando e a clareza leva o temor do novo embora. A brisa fria afaga meus cabelos anunciando que o período de luto já passou, que agora é só renovação e construção.
Aceno para meus ancestrais que brindaram comigo o ontem, um baú de infinitas descobertas que em minhas raízes sepulcram...
É hora de abrir as asas e se preparar para novos voos, novos amores, novas descobertas de mim, enfim...
Sou! Sim, senhora do fogo sim... aprendi a acende-lo dentro e fora de mim... Acendi a fogueira com meus desejos mais profundos e sinceros, penetrei na mata noite adentro acompanhada de meus pedaços espalhados por toda parte daquele céu maravilhado de pontinhos e nuvens de algodão. Sim, o céu também se surpreende com a beleza ao seu redor...e é nessa hora que tudo lá no alto parece mais perto e tocável, quase como um manto em nossos ombros em dia de grandes ventanias...
Compartilhei do canto dos bichos e do silêncio das folhas e com meus olhos também respirei, e em meus lábios o sabor da mãe anunciou serenidade.
Queimei o passado, acenei para o presente e me esqueci do futuro. Eu agora era o ali, o agora em si é o que mais importava, eu era como um sentimento... intenso e enorme... eu era amor, amor sem dor, amor sem limite, amor sem culpa ou necessidades... eu apenas ERA.
Com as fadas e gnomos me enfiei entre os galhos das árvores caídas e brinquei de sorrir, mergulhei no jardim da minha alma e redescobri o gosto pelo imaginário concreto. E senti que a minha poesia me reencontrava e beijava. Liberta de antigos véus...
Não precisava fazer sentido, eu apenas ERA, lembra?
O que há de sentido em nós, em sermos? Realmente nada em nós é abstrato e ilusório? Então o que realmente importa? Eu fui... me joguei e cultivei. E como uma avenca eu me alastrei e fui feliz. Como trepadeiras eu ascendi! Firmei minhas pegadas e as transformei em minha ações, minhas orações... minhas súplicas de outono... folhas secas caídas em pequenas ondulações versadas... minhas certezas e desatinos transpareciam por todos os poros. Insana que sou, comunguei da beleza do permitir, do aceitar e dividir. Do não impor, do observar com os olhos bem fechados e os ouvidos atentos! Realmente não devemos ouvir os absurdos alheios? ou devemos estruturar tanta banalidade absorvida em busca da seiva divina?!?
Absorvi, sorvi e degustei cada gota do seu ser, da sua saliva distinta e objetiva... entorpeci e assim, sonhei com um mundo realmente melhor... onde a verdadeira bondade não estava em doar e sim dividir...e quanta diferença eu entendi dessas duas semelhanças... Nunca foi tão fácil explicar quem sou ou a que vim... foi tão simples admitir... um raro momento antes do adormecer, ou seria despertar para um novo amanhecer? Em caminhos já pisado e esquecido pelo mecanismo de proteção, portas que na verdade nunca se fecharam, janelas que no fundo, nunca existiram... rostos e corações de quem nunca de fato me separei.
E quem de fato pode enxergar entre as chamas e ver um mundo todo? Derramar sem destruir, purificar ao exalar. E nessa ousadia, me convidei a dançar sobre as pedras pontudas, tamanha suavidade e leveza, que me impediam de me machucar... em minhas coxas continha a melodia da noite prometida e ansiei banhar-me em puras águas .. águas que refletiam o espelho do verdadeiro ser, os segredos e mistérios de todo buscador; Peregrina que sou, entreguei-me à arte de sonhar... desbravei meus próprios muros e contemplei um lindo jardim florido.
Ao abrir meus olhos, vi o sol deitar sobre mim, e confortavelmente se encaixou em minhas curvas soltas no mato frio... acariciou minha face com uma intimidade infinita. Cegou-me com seu sabor adocicado como mel, e tornou-me mais uma vez parte da sua imensidão. Entre lágrimas e gratidão, me despedi de mim, aquele mim que nem assim, poderia eu definir. Magia e sedução em comunhão... o respeito negado à minha personificação!! Essência expandida no silêncio deserto.
Perfeita epifania...
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